sexta-feira, 10 de setembro de 2010

16º Cap. The truth

Os dias foram passando, e a viajem foi fazendo um bem incrível tanto para mim quanto para o Felipe. Não encontrara mais o Julio perambulando pelos corredores e logo chegaria o dia em que teríamos que abrir o jogo para nossos parentes.
No ultimo dia de estadia no hotel, arrumamos as coisas nas malas, demos uma volta na praia de mãos dadas, tomamos sorvetes, claro que eu me lambuzei inteiro, nunca soube tomar sorvete sem sujar meu nariz. Eu sentia a vibração e o entusiasmo do Felipe em saber que iríamos contar a nossos pais.
Eu sinceramente, não estava tão animado assim. Comecei a pensar em minha mãe, uma mulher aparentemente fútil, mas era como se fosse uma máscara. Ela era inteligentíssima, viajara a uma boa parte do mundo, falava fluente três idiomas, era formada em Administração, mas não trabalhava. Na verdade, nos últimos anos, seu trabalho fora seduzir velhos, ricos a beira da morte. Pode parecer algo horrível, mas era o que havia garantido uma boa faculdade para mim no futuro, muitas jóias para ela, e uma vida confortável e luxuosa. Se eu disser que não gostava seria mentira, mas preferia que nossa situação financeira não houvesse dependido de um velho que eu mal conhecera.
"Ela deve ter a cabeça aberta" pensei eu "Afinal, ela percorreu o mundo, é inteligente, seria um absurdo chamá-la de ignorante"
Mesmo com esses pensamentos, eu não sentia muita segurança, e era incrível como o Felipe estava confiante. Parecia que o pai dele iria abraça-lo e perguntar a data do casamento. Mas não haveria casamento...Afinal, não somos um casal 'normal'.

_Yan?

Percebi que estava devaneando olhando para o mar.

_Ah, oi feh.
_Nossa, você foi longe ein
_É...
_Tava pensando em que?

Ele me perguntou com um olhar de preocupação.

_Na nossa chegada.

Não iria mentir ou omitir o assunto, sabia que dalí a umas horas, nossos pais estariam cientes da nossa condição, e isso me preocupava.

_Eu sabia...

Ele fechou a cara.

_Feh, como pode ter tanta certeza de que seu pai vai aceitar numa boa?
_Eu não sei Yan, mas por você eu estou disposto a correr esse risco.

Odeio quando ele me deixa sem argumentos.
Me sentei de frente pra ele, olhei bem no fundo dos olhos dele, que estavam com um tom castanho claro por causa da claridade do sol, mas suas feições eram tristes, como de quem acabara de acordar de um sonho maravilhoso.

_Felipe, é a ultima vez que eu vou perguntar isso, você quer mesmo assumir nosso namoro? 

Ele simplesmente segurou meu rosto e olhou sério para mim.

_Eu ja disse milhões de vezes que sim, quem parece que não esta certo disso, é você.
_Ta bom Feh, não perguntarei mais. Mas você sabe, que depois não tem volta.
_Eu sei o que eu estou fazendo Yan. 

Os olhos dele estavam sérios e autoritários, mas mesmo assim, não me sentia seguro.
Nos levantamos e voltamos ao hotel. Tomamos um banho, separados.
Arrumamos as coisas no carro e demos uma ultima olhada naquela praia maravilhosa antes de subir a serra.
Durante a viajem, conversamos descontraidamente sobre assuntos variados. Parecia que não havia existido aquela conversa na areia.
Demoramos pouco mais de duas horas para chegar em casa, quando desci, ele foi categórico

_Hoje a noite contarei pro meu pai de nós dois. 
_Ok, vou conversar com a minha mãe.

Dei-lhe um demorado beijo, e sai do carro com minha mala, ao me ver no jardim, minha mãe veio há meu encontro, um lindo sorriso no rosto, um vestido branco de seda, seus cabelos estavam cortados, seus lindos olhos brilhavam no sol, e a cada passo que eu dava, meu coração batia cada vez mais forte.

_Yan, meu filho, que saudade.
_Também estava mãe.
_Deixe essa mochila que Maria leva para dentro, vamos tomar um chá aqui no jardim, está um dia lindo.

Notei que tinha algo diferente nela, além do novo visual.

_Você está bem?
_Claro que estou filho, por que?

Olhei para ela com um olhar de preocupação, ela então, olhou fundo nos meus olhos, mudando suas feições e disse

_Preciso conversar com você Yan.
_Eu também mãe

Ela me olhou com um olhar curioso, de quem não esperava por isso.

_Mas pode dizer você primeiro

Ao dizer isso, me sentei bem de frente para ela. Uma brisa bateu nos cabelos dela, e parei pra pensar o quanto minha mãe era linda, mais do que eu me lembrara dela.

_Ta bem, começo eu então. Filho, eu sei que eu não fui uma boa mãe e eu sei também que por minha falha, você se tornou uma pessoa reservada. Antes de mais nada, queria pedir desculpas, eu quero participar da sua vida, que quero que você participe da minha, quero conhecer seus amigos, namoradas, enfim, quero ser uma mãe de verdade. 

Ela disse com um olhar sério, mas entusiasmado, meu corpo estremeceu ao ouvir a palavra 'namoradas'.

_Quero voltar a trabalhar, me sentir útil, quero viver de novo Yan, eu me sinto tão vazia.

Olhei chocado com as coisas que ela dissera, mas ela pareceu estar felicíssima por ter dito aquilo tudo, dando um largo e caloroso sorriso. Nesse momento Maria trazia consigo uma bandeja com algumas torradinhas, um bule de porcelana inglesa branca com pequenos desenhos de flores rosas, com duas xícaras que eram parte do conjunto britânico que minha mãe ganhara de casamento. Maria colocou tudo sobre a mesinha do jardim, e se retirou. Minha mãe me serviu olhando fixamente para minha mão, onde estivera a pouco minha aliança denunciando meu namoro secreto. Quando percebi, vi que onde estivera a aliança, ficara uma marca branca, pois durante a viajem, não a tirei por nada. Abaixei lentamente a mão até fujir de suas vistas.

_Bom filho, era isso que eu tinha que dizer

Anunciou após de me servir com um pouco de xá.
Meu coração parou, seria aquele momento que eu tanto temia durante a viajem, minhas mãos começaram a suar, meu coração a palpitar rapidamente, senti que dei uma leve empalidecida.

_Mãe - comecei - antes de mais nada, quero dizer que te amo muito, e fico muito feliz em saber que você tomou tais decisões.

Ela sorriu novamente, mas percebi que seus olhos ainda estavam preocupados com o que eu iria dizer.

_O que eu tenho para te dizer, não é algo fácil, mas eu preciso fazer, isso está me sufocando, e como você disse, quer participar da minha vida...
_O que foi filho, você esta começando a me preocupar...
_Mãe, eu não sei nem como dizer isso...
_O que é Yan? você se envolveu com drogas?

Eu estava tão tenso que acabei soltando uma risadinha de deboche.

_Não mãe, não é drogas, tem a ver com a minha viajem a praia...
_Ah, claro...então o que é?
_Mãe, eu sou gay.

Nesse momento, eu tapei a respiração, o rosto dela mudou, seus olhos perderam o brilho, suas mãos caíram em cima de mesa, o olhar dela era  uma mescla de decepção com frustração, como se ela tivesse culpa da minha condição. Ficamos nos entreolhando durante aproximadamente meio minuto, que pareceu uma eternidade. Finalmente disse ela...

_Vá para seu quarto, preciso ficar um pouco só.

Essa frase caiu como uma bomba no meu estômago, me levantei, abri a boca para dizer algo, mas não consegui, ao passar por ela, notei uma lágrima escorrer de seu olho esquerdo. Caminhei até a porta de casa e olhei para traz, ela havia abaixado o rosto em seus braços, e eu não ouvia, mas sabia que estava chorando. Subi correndo para meu quarto, com o coração apertado, segurando para não chorar. Peguei meu celular e liguei para o Felipe. O celular só chamava, insisti, acho que liguei para ele umas dez vezes, exausto, extremamente triste por saber que havia desapontado minha mãe, me entreguei aos meus sonhos, e peguei no sono com o celular na mão. Queria saber como fora na casa do Felipe, mas ele não atenderia o telefone tão cedo.