segunda-feira, 4 de outubro de 2010

17º Cap. The Coup

Naquela noite, sonhei com um cemitério, eu caminhava e lia nas lápides os nomes de amigos, parentes. O cemitério estava escuro embora não fosse noite ainda, as estátuas e imagens de santos e anjos acompanhavam me com o olhar, até que eu cheguei ao centro do cemitério, onde havia uma enorme árvore, não sei bem qual, nunca entendi muito de árvores, mas ela estava morrendo as folhas caiam secas, mortas, dando ao ambiente a sensação de pleno outono, mas além disso, eu conseguia sentir a tristeza.
Senti uma angustia, uma vontade de ajudar, vontade não, quase como um dever, como se fosse minha culpa que ela estivesse morrendo. Só depois de um tempo encarando a árvore, notei que havia algo escrito em seu tronco, me aproximei e onde deveria estar uma parte da raiz no solo, havia um pequeno montinho de terra, ao olhar para a árvore novamente, lia-se em seu tronco

Aqui Jaz Felipe João dos Santos Souza

Acordei  suando com o susto do sonho, já era de manhã e meu quarto estava exatamente como eu o deixei antes de dormir, em meu celular dez ligações perdidas da Mariana. Sinceramente não sentia animo para ligar para ela. Me levantei e fui para o chuveiro, depois que sai do banho quente, tentei novamente ligar para o Felipe, e o maldito celular, só chamava. Comecei a chorar com medo de ter acontecido algo. Quando dei por mim estava ajoelhado no chão do meu quarto com a cabeça pousada pesadamente sobre o colchão da cama apenas de bermuda. Ouvi passos na escada e ouvi a porta do meu quarto se abrir atrás de mim.

_Bom dia Yan...é...está tudo bem? – Disse Maria desconcertada
_Sim – secando as lágrimas do rosto – só estava procurando uma camiseta limpa.
_O café já está servido e sua mãe o espera para comer. – Disse Maria.
Coloquei uma camiseta retirada da mala, que eu ainda não desfizera, e desci, minha mãe estava atônita, comendo seu cereal com frutas e mel, vestida para ir para a faculdade.
_Bom dia – eu disse.
_Bom dia – disse ela secamente sem ao menos levantar o olhar para mim.

Foram as únicas palavras trocadas no café da manhã todo. Quando o relógio marcou dez para as oito, minha mãe levantou-se, dirigiu-se até a sala de estar, pegou as chaves do carro, e saiu de casa, sem ao menos me dar tchau.
Corri para arrumar minhas coisas, pois iria a casa do Felipe, enquanto eu estava correndo procurando meu celular, a campainha de casa tocou, me perguntei quem deveria ser a uma hora daquelas. Novamente ouvi o sapatinho de camurça preto de Maria subindo as escadas.

_Tem um rapaz lá em baixo que quer falar com o senhor.

Meu coração foi para a boca, será que era meu namorado, desci correndo as escadas até encontrar com a Mariana e meu amigo que não via fazia tempo, Lucas. Ele estava um pouco mudado, vestia uma camisa salmão e uma calsa jeans azul escura, tênis preto e o cabelo bagunçado, notei que a camisa dele trazia um leve amassado, como quem acorda correndo. Antes que eu pudesse perguntar o que ele estava fazendo na minha casa, Mariana perguntou:

_Por que você não atende ao celular?

Havia um quê de irritação e preocupação em sua voz.

_Ah Mari...desculpa, mas eu preciso ver o Felipe, ele não atende o celular.
_Eu sei Yan, é por isso que nós viemos aqui, vamos te levar ao hospital para ver ele.
– Disse Lucas, com uma expressão cansada e triste.
Quando ele disse a palavra hospital, meu coração parou, minha respiração cessou e minha cor se esvaiou.
_O que aconteceu com ele? – Perguntei com dificuldade
_Não sei bem o que aconteceu, mas parece que ele e o pai tiveram uma briga muito feia, ele esta inconsciente Yan, levou uma pancada muito forte na cabeça. - Disse a Mariana

Estava prestes a chorar ali mesmo, mas segurei o choro e disse.

_Então vamos logo.

Corremos para o carro, Lucas acelerou e em quinze minutos estávamos no hospital regional.

_Ele está no sexto andar Yan, vai na frente que eu vou estacionar, Mari, leva ele lá. – Disse Lucas quando eu desci do carro.

Eu corria pelo hospital como se minha vida dependesse disso e Mariana vinha em meus calcanhares. Devo ter ouvido um ou dois seguranças reclamando sobre a correria, mas eu não me importava, naquela hora, nada mais me importava, meu namorado estava inconsciente e precisava de mim.
Quando cheguei ao quarto dele Isabella estava sentada ao lado da cama, com um olhar de tristeza para ele.

_Yan, eu sinto muito. – Disse ela ao me ver.

Caminhei até ele olhei bem para seu corpo, pálido, estava coberto por um lençol incrivelmente branco, seu rosto estaria lindo se não fosse pelos pontos, dados na parte superior direita da sua cabeça. Sentei-me ao lado dele, passei a mão em seus cabelos e a outra repousei sob seu peito, ele respirava, mas seu coração batia fraco, de vagar.

_O que fizeram com você Fe? Por favor, acorda, eu preciso de você.

Comecei a chorar sob o peito do meu namorado. No quarto estávamos eu e ele, Isa e Mari deixaram o quarto logo após minha chegada. Fiquei lá aproximadamente dez minutos sozinho, esperando, que ele levantasse, me chamasse de amor, cabeção, mlk, qualquer coisa. Mas não aconteceu, Lucas entrou no quarto e me abraçou, não vira meu amigo desde nossa partida à praia.

_Fica calmo mlk, ele é forte, vai sair dessa. – Disse ele me abraçando fortemente.
_Tomara Luc...eu não me vejo sem ele.
_Fica calmo, você precisa ser forte para passar essa força para o Felipe.


Me lembrei de quando eu fui a casa dos Leal para tirar Lucas de uma depressão terrível por causa de seu namorado, Ariel. E naquele momento eu me vi no lugar dele, como eu iria viver sem ele? Se acontecesse algo a ele eu não saberia como iria continuar.

_Você precisa falar com o médico Yan, ele tem algumas coisas a te dizer.

Fui procurar o Dr. Guilherme Medeiros.

_Oi Doutor eu sou Yan, o namorado do Felipe, como é que é a situação dele?

Ao dizer a palavra namorado, achei que o doutor iria ao menos esboçar uma expressão de desprezo, mas pelo contrario, me olhou preocupadamente , mesmo sem me conhecer.
O Doutor Guilherme Medeiros era um homem alto e magro de meia idade, cabelos grisalhos, bondosos olhos castanhos.

_Bom Yan a situação dele não é fácil, ele precisa ficar de repouso para ver se responde aos remédios que demos a ele.
_Ele corre risco de vida Doutor?
_Você precisa entender Yan, que a lesão é funda...

_Doutor, pelo amor de Deus, ele vai sobreviver? 


Nesse momento, meu coração batia rápido, mal me atrevi a respirar

_Ele está em coma Yan


Fiquei desesperado, não sabia como aquilo poderia estar acontecendo.

_Faremos todo o possível. – Disse o Doutor com uma expressão de segurança.

Depois da conversa com o médico, não queria mais falar com ninguém, não queria comer e nem dormir, ficaria ali sentado ao lado do meu namorado até ele se levantar. Olhei os pontos que foram dados, o corte não parecia longo, era algo pequeno, mas me preocupava de mais.
Permaneci ali durante dois dias, Lucas, Mariana e Isabella revezavam para vir me visitar, eu não voltei para casa durante esses dias, eu estava esgotado, mas precisava manter-me forte para que meu namorado levantasse daquela cama, me desse um beijo e sorrisse de novo para mim.
Nenhuma visita do pai dele e nem ligação de minha mãe. Mas isso era o que menos me importava. E as únicas perguntas que me vinham a cabeça era “O que havia acontecido?” e “Quando ele iria acordar?”. Ninguém havia me dito, mas eu tinha certeza que era algo com o pai dele.